Há poucos anos, uma antiga conhecida de infância me pediu um orçamento para que eu a fotografasse. Naturalmente, enviei minha proposta e até ofereci um desconto, em nome da nossa amizade. É possível imaginar o tamanho da minha surpresa ao receber uma resposta bem desaforada, na qual ela dizia se sentir desrespeitada dada a nossa história, já que eu havia enviado um orçamento 'caríssimo', 'absurdo' para uma amiga.
Engraçado que ela não acompanhou a minha trajetória. A vida afasta algumas pessoas, aproxima outras, é perfeitamente natural. Mas o que ela não viu foram os anos de estudo de arte, de fotografia, de marketing, as leituras, as buscas por referências, as crises, o tempo em experimentação para encontrar uma estética visual, a compra de equipamento, a conquista da minha primeira câmera, depois a batalha para a minha primeira full frame, a felicidade da compra de cada lente que poderia me entregar o resultado que eu buscava, o investimento em um computador que dava conta do tamanho dos arquivos que eu precisava tratar, o tempo dedicado à divulgação da carreira e à construção de um nome, as noites em claro, a montanha russa financeira vivida por um freelancer.
Talvez, se ela tivesse acompanhado um pedacinho desse processo, a resposta teria sido diferente.
A verdade é que acho o 'caro' muito relativo - depende de uma série de fatores. Quando falamos de subjetividades, como a fotografia ou a arte, a precificação é uma ciência complexa. Já deixei de comprar obras que eu amava porque o preço não cabia no meu bolso naquele momento. Mas eu jamais teria a ousadia de rotulá-las 'caras demais'. Acho mesmo é que trabalhos artísticos e criativos devem ser cada vez mais valorizados - não vejo razão para serem mais baratos que o trabalho de um advogado, um médico ou um engenheiro. É uma profissão digna como qualquer outra.
Em compensação tenho amigas que apoiam o meu trabalho quando podem. Que não questionam o meu preço, e são conscientes do valor agregado ao que eu faço - têm completa noção de que um processo fotográfico não se resume ao breve instante do clique. Algumas, inclusive, retornam todos os anos.
Do outro lado, sempre que possível, apoio também o trabalho de quem conheço, tudo que considero de qualidade. Invisto em projetos, ideias. Não questiono preço, e sou realista quanto à minha possibilidade de, de fato, adquirir aquele bem ou serviço. Se não posso hoje, espero poder apoiá-lo em outra situação. Mas apoio com a minha indicação, recomendação, engajamento — conto para as pessoas o quando considero aquele trabalho relevante, aquela experiência interessante.
E assim, a roda gira. Sigo vivendo de subjetividades, feliz com as amigas que viram clientes, as clientes que viram amigas - e todas as pessoas lindas que encontro nesse trajeto de 15 anos de fotografia.
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Raquel Pellicano
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gosto tanto das suas letters… sua sensibilidade e delicadeza ao falar de assuntos espinhosos e as referências que você oferece tão generosamente são presentes precisos que guardo com carinho. Obrigada