Mais uma música pra você escutar na companhia dessa carta.
Ao aprendermos algo novo, ficamos ansiosos para testar a técnica, experimentar suas possibilidades em um devaneio criativo qualquer. Lembro da mágica que senti ao dominar o Photoshop, pensando que tudo era possível, o céu era o limite. Ou quando percebi que qualquer coisa era viável trabalhando com colagem: o maior drama era compreender quando parar, saber identificar a hora de dar o trabalho por terminado.
Já conversamos aqui sobre a obsessão pela imagem perfeita, ou o erro comum, que muitos cometem, de acreditar que a imagem encerra-se em si mesma: ideia que constrói um exército de fotógrafos e artistas tecnicistas, que acreditam que apenas a técnica, e nada além da técnica, os tornarão bons e competentes.
Hoje quero trazer pra vocês o resultado de um lindo encontro, daqueles que acontecem só quando somos a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa: do fotógrafo Duane Michals com o artista René Magritte:
“Se eu me entregar à memória, ainda posso sentir o nó de excitação que me dominou quando virei a esquina da Rue Mimosas, procurando a casa de René Magritte em Bruxelas. Era agosto de 1965. Eu tinha 33 anos e estava prestes a conhecer o homem cujas pinturas surrealistas profundas e espirituosas contradiziam minhas suposições sobre fotografia. Ele era um surrealista que vivia como um banqueiro com a mente caleidoscópica de um alquimista. Foi muito gentil comigo, dando-me carta branca para seus tesouros… Minha visita ainda perdura com os olhos do meu portfólio.”
Duane Michals
Conhecido pelas elaboradas narrativas visuais, Duane inovou ao se utilizar de imagens sequenciais, muitas vezes acompanhadas de textos escritos pelo próprio punho:
Ao desenvolver um ensaio fotográfico de Magritte, encontrou a oportunidade de unir sua paixão pela narrativa visual ao surrealismo do artista. Utilizando-se de longas, duplas e múltiplas exposições, corroborava com essa visão de maneira incontestável: foi capaz de transpor as pinturas para a imagem fotográfica, criando um ensaio que era absoluta e inegavelmente A CARA de René Magritte.
A história completa por trás deste ensaio, todas as fotografias e as notas do fotógrafo sobre o momento icônico na sua carreira, podem ser encontradas no livro Duane Michals: a visit with Magritte.
💡O que quero trazer com essa mensagem é: naturalmente todos entendemos o valor e a importância do conhecimento técnico ao fazer fotográfico. Mas a técnica deve ser utilizada em função da imagem, e não como razão da imagem.
Aqui, tudo fazia sentido. A produção com chapéu coco, o leve sorriso do artista-assunto e as múltiplas exposições e distorções, ficaram perfeitamente encaixadas nesse quebra-cabeças, que transportou o imaginário surrealista para as sequências narrativas bem humoradas de Duane Michals. Nada nas imagens acontece por acaso, à toa, ou simplesmente “porquê sim”.
☕️ Agora encerro essa carta com uma pergunta: o que sairia do seu encontro fotográfico com um artista favorito?
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Raquel Pellicano
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