Hoje chego com atraso - fora da data habitual, de domingo, por motivos óbvios: cá de Portugal demorei quase 4 horas à fila para votar, e, naturalmente, não me senti confortável escrevendo sobre nada que não fosse a urgência e a importância daquele momento de celebração da democracia. Não me cabe, nessa newsletter, discorrer sobre o nosso posicionamento político, enquanto voz do f/508. Se você quiser conhecer minha opinião sobre, fique à vontade para acompanhar algumas postagens pessoais nas minhas redes.
Há aproximadamente 11 anos, quando terminei a faculdade, fui passar 20 dias em Trancoso, no sul da Bahia, em busca de descansar um pouco entre duas fases importantes da vida.
À tiracolo, levei só uma câmera analógica, a Olympus OM-10 emprestada de uma amiga, com 3 filmes 35mm. No último rolo, senti que fiz algumas das melhores fotos da vida — e cometi o erro infantil de encaixá-lo errado.
Uma outra vez, no meio da estrada, vimos árvores inundadas em um cenário surreal, mas estávamos cansados demais para parar — no dia seguinte fomos em busca do mesmo local, que já não era o mesmo: tudo secou e a foto não se fez possível.
Em outro momento, vislumbrei a fotografia perfeita, digna de prêmio: 5 freiras, devidamente vestidas em hábito, a se divertirem na praia durante o final do dia. A foto impecável estava pronta, ali, apenas aguardando para ser eternizada. Óbvio que minha câmera não estava à mão. O celular também não fez jus à beleza que eu via.
Acho que as melhores fotografias acabam por ser sempre aquelas que não viram a luz do dia, são impalpáveis: os filmes que queimaram, os arquivos que se corromperam, as imagens nas câmeras roubadas. Todas elas carregam uma aura especial, inerente ao inalcançável, inatingível. Que fotógrafo nunca se viu diante da frustração de perder uma grande imagem em potencial?
✨O instante fotográfico tem essa característica: é efêmero. Procure não perder a oportunidade de fazer uma fotografia ao ser a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa.
✨Para ver, ler e ouvir
👁️ Para ver: que tal essa campanha da Gucci a partir dos filmes de Kubrick??
👁️ Com a ajuda de pintores canadenses, o Wedge Studio reimaginou as capas de 25 títulos de livros clássicos e modernos. As artes são lindíssimas! Não escolho o livro pela capa, mas confesso que algumas me balançam bastante…
📚 Para ler: adorei a reflexão da Vanessa Guedes sobre a nudez - particularmente reflito bastante sobre alguns pontos trazidos por ela, já que uma das minhas frentes de trabalho é o nu fotográfico.
🎧 Para ouvir: esse é um dos meus episódios favoritos do podcast Para dar Nome às Coisas. Adoro a sensibilidade da Natália para as reflexões trazidas.
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Beijinhos e até a próxima,
Raquel Pellicano
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