Oi, tudo bem? Naturalmente, não achei pertinente colocar no mundo uma edição dessa newsletter na semana passada. Tínhamos um compromisso importante com a democracia, e essa questão sequestrou, como esperado, o domingo por completo. Se você tiver interesse em conhecer o nosso posicionamento político, ele nunca foi segredo pra ninguém nas nossas redes pessoais, como já mencionei antes por aqui. Mas vamos à carta semanal?
Não esqueço da minha primeira câmera — eu ainda não fazia a menor ideia que o futuro me transformaria em fotógrafa, e tinha exatos 17 anos, quando, em 2004, consegui comprar uma digital com 2 megapíxels em uma viagem especial.
Minha avó foi comigo para a Europa, e fiquei apaixonada ao poder, finalmente, registrar aqueles momentos em imagens. A Raquel do passado tinha mão pesada e muitas urgências em guardar memórias: fotografou as flores, o pôr do sol, a arquitetura e tudo mais que julgava necessário para eternizar aquelas lembranças.
Vejo essa mesma atitude muito impressa na sociedade contemporânea, que registra incansavelmente cada segundo de suas vidas. Mas reflito: o que nos leva a ter tanto desespero por capturas? Por deixar a comida esfriar para vorazmente fotografar um prato?
Acho que o objetivo intrínseco a essa ação é o de empoleirar todos os parentes e amigos ao redor do computador para contar cada detalhe das aventuras de viagem — mas vamos combinar: com o advento do digital as centenas (às vezes milhares) de fotografias só carregam afeto para quem vivenciou aqueles momentos de perto (e talvez uma mãe ou avó). De muitas, provavelmente umas 30 irão para os stories do instagram e o fatídico destino de todas as outras é um HD empoeirado, para nunca mais serem vistas.
Essa atitude me faz refletir um pouco sobre o que nos leva ao fotografar desesperado, impensado, ao clique sem atenção. Vejo muitos fotografando, inclusive, quadros em museus — qual o valor daquela reprodução, que de certo é muito pior que todas as que você encontrará na internet?
Algo me diz que isso vem da nossa relação mal trabalhada com a finitude. Com uma tentativa de não deixar o tempo escorrer pelos dedos. Mas ele é como areia bem fina — seu HD vai envelhecer e quebrar irremediavelmente com todas essas lembranças de outrora.
Longe de mim, dizer que você não deve fotografar a sua viagem, eu mesma sou uma grande defensora das narrativas turísticas. Apenas a título de provocação: penso que podemos desenvolver uma relação de maior maturidade com os registros fotográficos enquanto viajantes. Já que todos somos um bocado fotógrafos, com um celular à mão (e um tanto exagerados), qual seria a forma mais interessante de reter essas memórias (até mesmo para não entediar seus amigos e parentes convidados para ver esse material depois)?
Algumas sugestões saudáveis:
💡 faça uma selfie para guardar que esteve por lá: depois, pense mais como um fotógrafo. Busque o inusitado, invente o que pode fazer parte da sua narrativa atento à composição, luz, instante.
💡 saiba quando deixar a câmera de lado e aproveitar o momento (para algumas vivências a imagem fotográfica nunca faz jus).
💡 olhe à volta, às vitrines, às ruas, aos detalhes. Pense em composições largas, médias e fechadas para trazer riqueza à narrativa.
💡 os reflexos são ótimos aliados para fotografar pessoas sem invadir o espaço do outro
💡 conheça o equipamento que tem à mão e suas possibilidades ou limitações (o celular, por exemplo, costuma ter de praxe lentes grande-angulares, o que proporciona enquadramentos mais largos.)
💡 escolha um padrão para o tratamento — é importante para trazer uma sensação de unidade à narrativa. Para o celular, adoro as apps Vsco Cam ou Hypocam (com um PB impecável)
💡 se preferir, um recorte voltado a assuntos específicos também pode ser interessantíssimo para o desenvolvimento de uma série (por exemplo: pés e sapatos em Roma, telhados de Lisboa).
Por fim, nunca deixe de selecionar, tratar e, se possível, imprimir as melhores imagens em forma de fotolivros. O hábito de mantê-las apenas nos HDs torna-as fadadas ao desaparecimento. Todo fotógrafo, mais cedo ou mais tarde, perde arquivos.
☕️ ps.: gostou da reflexão? Um excelente caminho para aprender a organizar seus arquivos fotográficos de viagens, selecionar e tratar essas imagens com carinho e critério, é o aprendizado da ferramenta do Adobe Lightroom Classic. Amanhã (07/11) começaremos a próxima turma (comigo), e você pode saber tudo sobre aqui.
✨Rapidinhas para ver, ler e ouvir
✨Conheça o trabalho de colagem e apropriação de fotografias vernaculares de @marjoleinburbank
✨Este mês o impecável André Carvalhal lançou uma nova edição do livro Moda com Propósito, alterada e revisada. Não deixe de conferir sua newsletter sensacional.
✨Algumas notas e planos noturnos para que sejas mais criativo (em inglês).
✨O Booooooom Photo Awards tem 6 categorias de prêmios: Pessoas, Lugares, Coisas, Crise Climática, Comunidade, Serendipity. Todos podem enviar uma imagem gratuitamente.
✨A música portuguesa me proporciona novas descobertas sempre! Amo Benjamim, já ouviu?
Gostou do que encontrou aqui? Encaminhe para um amigo, recomende! Isso significa muito pra gente. Tem alguma questão? É só responder a este email, que falará diretamente comigo. Beijinhos e até a próxima,
Raquel Pellicano
Acompanhe o f/508:
visite o nosso site
siga no instagram
siga no twitter
assine no youtube
junte-se à conversa no discord