Em fevereiro de 2023 completaremos 3 anos de vida em Lisboa. Estamos nos adaptando ao ritmo de Portugal, buscando entender um pouco mais sobre este país que divide a língua portuguesa com a gente, mas tem uma cultura tão diferente. Aqui, a principal diferença que sentimos na pele é a do ritmo.
Os portugueses respeitam o tempo das coisas, a hora e o lugar para que tudo aconteça. Explico: nos meses de julho e agosto acontecem as férias de verão. Descobrimos que são um momento sagrado: as pessoas se desligam do mundo e esperam que o mundo respeite esse momento de descanso.
A gerente do banco não delega funções para ninguém — é recebida à volta do trabalho com uma caixa de e-mail abarrotada e tarefas acumuladas. As lojas, com pouquíssimos funcionários, também não fazem contratos temporários: simplesmente fecham as portas com um aviso pregado à entrada sobre as férias.
Aliás, os poucos que trabalham ali, fazem tudo vagarosamente, cuidadosamente, no tempo que as coisas precisam para ficarem perfeitas — na ordem que as coisas têm — não interessa a sua pressa ou o tamanho da fila por detrás do balcão. Com direito a uma fofoca sobre o filho da vizinha ou o comediante na televisão.
💡E o que a gente aprende com isso tudo?
No Brasil, quando existia espaço físico do f508, sempre tivemos que lidar com a ansiedade das pessoas que não tem atenção ao tempo das coisas.
Muitos sentavam no nosso pequeno bistrô, cheio de livros, obras de arte e objetos especiais, e ficavam chateados com a lentidão decorrente do minúsculo espaço de preparo e de um ou dois funcionários a cozinhar.
Nervosos, por vezes levantavam depois de alguns minutos a quicar no mesmo lugar, e iam-se embora. Não eram capazes de compreender que ali não cabia a pressa: tudo era feito de forma artesanal, por uma pessoa só, quando muito duas. Mas cabia, sim, muito tempo para uma boa prosa, uma leitura, uma observação profunda de um quadro na parede. Afinal, acho que sempre fomos mais portugueses do que pensávamos ser.
As coisas lindas da vida acontecem assim: lentamente, com tempo para maturarem, para amadurecerem, para crescerem. Não adianta a gente querer colocar o carro na frente dos bois. Entre A e B, sempre existem processos — carinho, estudo, erros, vivências. E assim também acontece em uma trajetória artística.
A gente começa tudo querendo ir do ponto A ao ponto B com uma agilidade que não permite qualidade, e percebo isso nos alunos que querem mergulhar o mais rápido possível na fotografia e nas artes. Não tem jeito — nada vai substituir as suas quedas no caminho, que trazem com elas tanto aprendizado do que não fazer, de como não agir e também do que fazer, de como agir.
E esse é o meu recado para os aspirantes a fotógrafos e artistas que recebem essa newsletter, mas pode ser útil em outras áreas na sua vida também: é difícil, mas a gente tem que aprender a respeitar o tempo das coisas. Eu mesma estou lidando com isso aqui em Portugal. Recomeçando uma carreira do zero na fotografia, depois de quase 3 anos de pandemia.
Viver de arte não é como ser engenheiro ou dentista: não existe fórmula exata, nem caminho ideal para se trilhar. São trajetórias possíveis cheias de bifurcações, com muitas linguagens, possibilidades e subjetividades.
💡 Encerro o ano feliz com o sucesso de um dos nossos cursos mais especiais: a Pós Graduação em Fotografia como Suporte para a Imaginação, com projeto pedagógico criado por mim, em 2016. Muita gente estranha esse nome, acha curioso, diferente, esquisito. Explico: a nossa pós não vai garantidamente te tornar artista, também não vai garantidamente te tornar um baita fotógrafo.
Mas vai te mostrar o caminho das pedras e desdobramentos possíveis na busca da sua linguagem em diálogo com a imagem fotográfica, a partir de professores com amplas trajetórias acadêmicas e artísticas. Sem as comumente promessas miraculosas de carreiras garantidas, você pode ter certeza que o projeto é indubitavelmente transformador.
Essa é a parte linda de se desafiar: nunca saímos iguais de um curso tão estranho e especial como uma pós graduação em fotografia como suporte para a imaginação. Quer saber tudo sobre a turma 7, com início em agosto? Clica aqui!
✨ rapidinhas para ver, ler e ouvir
👁️Adoro seguir a Isa, artista visual multidisciplinar que faz animações incríveis
👁️Se liga na fofura do instagram Comida Ilustrada
🎧O álbum recém Lançado Cabeça Fora d’água, da Bella Bretz e do Rodrigo Lana, é uma delícia
📚A news da Carol Dini é uma leitura que aquece o coração
Fotografias nada banais pro curso do banal
Encerramos o ano do Passaporte Cultural com a última aula do curso Fotografia do Banal - a quantidade de trabalhos incríveis que recebemos dos alunos participantes é de cair o queixo. Aprendemos, juntos, que o banal depende do olhar de quem vê: tudo pode ser assunto para uma boa fotografia. As fotos aqui no alto nasceram a partir da provocação para uma selfie nada banal.
Além das selfies, pedimos como trabalho final um diário fotográfico do banal. Dentre memórias e registros lindíssimos, recebemos a obra Vida e Morte da Beterraba, pela aluna Mani Vaz, que acompanhou o tubérculo no seu jardim.
🎬 Estão oficialmente abertas as inscrições para o próximo ciclo do Passaporte Cultural f/508, o maior programa multidisciplinar do Brasil com aulas online e ao vivo. Para o próximo semestre aprenderemos conceitos básicos da fotografia, entenderemos mais sobre como realizar uma boa leitura de imagens e produções artísticas, conversaremos sobre fotografia documental, aprenderemos a escrever contos e a contar histórias de forma interessante, conheceremos caminhos na poética do livro de artista, aprenderemos sobre um pedação da história da arte que não é contada e estudaremos as intersecções entre moda e literatura… para trazer só um apanhado geral do próximo mergulho.
🎨Quer fazer parte? Você pode ter tudo isso e um tanto mais, com uma mensalidade de R$160. Se você tem vontade, mas não consegue pagar pela participação no Passaporte, existe também a possibilidade de ser contemplado pelo nosso banco de bolsas.
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Raquel Pellicano
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