Ter o luxo de conviver com a minha avó, Gaby, por 30 dias consecutivos nesta última temporada em Brasília, me fez relembrar várias boas histórias de amor pelo caminho.
A começar por uma história de amor e confiança, que fez meu bisavô acreditar no pressentimento do amigo de que chegaria a acontecer algo tão rudemente surreal quanto Hitler e o nazismo, deixando tudo para trás e fugindo com sua família da Alemanha para um Rio de Janeiro solarengo e quente.
Já o amor fraternal, levou o mesmo bisavô a vender sua valiosíssima coleção de selos (um dos únicos bens que trazia consigo na mudança de país) para realizar o tratamento de sua filha (Gaby) e a compra da cadeira de rodas para recuperação da Poliomielite.
Também tem uma história (surreal) de amor mal correspondido, quando minha avó, já moça, trocava cartas com um amigo japonês — um verdadeiro penpal — que desenhava mangás e outras narrativas visuais. O tal apaixonou-se e, ao receber uma carta com o aviso de que minha avó se casaria em breve, equivocou-se na tradução, entendendo o que seria um pedido de fim no diálogo com um pedido de casamento. Poucos dias antes de ir ao altar com meu avô, ela recebe em sua porta (atente-se, isso em uma época sem internet nem ligações interurbanas) uma visita do amigo nipônico, pronto para desposá-la. Este regressou logo ao outro lado do mundo, com o coração partido.
A história segue com uma narrativa de amor próprio, que fez uma mulher super jovem, com dois filhos, ter a coragem para pedir o divórcio e sair de um relacionamento ruim em um tempo no qual ser ‘desquitada’ era considerado dos piores males.
E a narrativa segue com o amor pela sua independência e sensibilidade (dignas de uma pisciana com ascendente em escorpião), que a fizeram estudar artes, botânica, pedras preciosas e trabalhar na H. Stern como a primeira mulher autorizada a ir com sapatos baixos (por conta dos pés instáveis — consequência da paralisia infantil).
Acompanhei a minha avó trabalhando e amando sua profissão (no gerúndio mesmo) até aproximadamente os 80 anos de idade: começou sendo intérprete do alemão para a rádio nacional do Brasil na Alemanha, respondendo às cartas dos ouvintes — com o encerramento deste braço, passou a atuar desenvolvendo programas na rádio nacional da Amazônia, e só se aposentou quando foi praticamente obrigada a encerrar essa longa trajetória. Tive algumas oportunidades de acompanhá-la ao trabalho quando criança, e não me esqueço da sensação peculiar de utilizar uma máquina de escrever.
Tenho o privilégio de poder conviver com essa figura que transborda histórias de amor, e os meus 30 dias de fotografia em Brasília, desta vez, tinham salada de palmito, Linzertorte (uma torta típica da Áustria) e muitos, muitos mimos e bilhetes.
Não é todo dia que temos a percepção do tamanho do privilégio que é o fato de podermos conviver e conhecer os nossos avós. Se você é um privilegiado, não se esqueça de aproveitar com carinho cada segundo deste amor.
Uma coleção de referências visuais - Ouro puro!
Uma maneira linda de colecionar e guardar os amores que recebemos (como os bilhetinhos que ganhei da minha avó), é desenvolver o hábito de registrar o mundo e a vida com sketchbooks. É quase um diário, mas agrega visualidades que proporcionam sensações até então intangíveis. Eu tenho dezenas de referências visuais de colagens e trabalhos com papel pra você se inspirar, lá no Pinterest.
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Raquel Pellicano
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