Na semana passada preferi me ausentar: todo o foco estava na copa, e por isso me dei essa folguinha. Mas seguimos aos domingos (sempre que possível). Separei essa música pra você escutar com a minha carta.
☕️ O Humberto, meu companheiro e professor do f/508, é bastante conhecido pelo seu desgosto por fotografias de pôr-do-sol, bebês, florzinhas. Mas o que quase ninguém sabe, é que existe muita razoabilidade nessa opinião — que não vem de rabugice ou desprezo, mas de um profundo respeito à fotografia e à vida. Explico:
A Penélope Umbrico, artista visual cuja matéria prima é a apropriação de imagens, criou várias obras interessantes que batem na mesma tecla. Ela buscou por palavras-chave comuns na plataforma de compartilhamento de fotografia Flickr, como pôr-do-sol — e criou um enorme painel com as centenas de variações de sois que encontrou. Todas as imagens têm um detalhe em comum: a banalidade e a ingenuidade de quem as compartilhou associando essas fotografias a momentos muito especiais nas suas vidas. São iguais!
Todos nos achamos especiais. Todos queremos alcançar grandes feitos na vida — e como a gente, muitos passaram por este mundo: nasceram, viveram, morreram. Alguns, deixaram livros, cartas, histórias ou fotografias fantásticas. Mas o que deixaremos para além do clique digital frenético?
Ao termos uma câmera à mão a todo o tempo, vivemos um constante frenesi do registro. Como já mencionei aqui antes, acho que são nossas tentativas de congelar um tempo que segue escorrendo como areia pelas nossas mãos. Tudo tem que ser registrado, compartilhado, postado. Mas quantas fotos são relevantes? Quanto tempo perdemos, ou quanto deixamos de vivenciar preocupados em registrar?
Sei que aquele pôr-do-sol na praia foi especial pra você. Mas será que fotografá-lo é realmente o que faz jus à beleza do momento? A fotografia, neste caso, só faz piorar o que a natureza (ou pode chamar de Deus, se preferir) criou lindamente.
Tenho certeza de que olhar para a sua fotografia não transportará ninguém, nem por um instante, para o que era sentir a luz rosada no corpo, o calor do sol na pele, o vento. E como todas as milhares, a sua será só mais uma foto igual de um pôr-do-sol qualquer.
💡E o meu intuito com esse texto não é te deixar dodói, apenas trazer uma reflexão. A maior maturidade que podemos ter em tempos de caos imagético talvez seja justamente reconhecer quando não fotografar/compartilhar/postar — mas sentir, vivenciar, aproveitar o momento. E guardar, no fundo da memória, junto com toda a beleza, as sutilezas e nuances daquele instante só pra você.
A lógica serve, também, para outras coisas: a sua fotografia provavelmente não fará jus ao sabor da comida que esfriou para que você a clicasse em 10 diferentes ângulos. Às vezes é bom colocar a câmera de lado, desligar o celular.
No filme A Vida Secreta de Walter Mitty, que a gente adora, tem uma cena linda onde o fotógrafo Sean O’ Connell encontra um leopardo raro:
-Walter Mitty: Quando você irá tirar a foto?
-Sean O’ Connell: Às vezes eu não tiro a foto. Se eu gostar de um momento, para mim, particularmente, eu não gosto de ter a distração da câmera. Eu apenas gosto de estar nele.
-Walter Mitty: Estar nele?
-Sean O’ Connell: Sim. Bem ali, Bem aqui. Coisas belas não necessitam pedir por atenção.
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Raquel Pellicano
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