Algumas notas pessoais sobre o retrato fotográfico
E recomendações práticas para a fotografia
Aviso aos navegantes: decidi transferir essa newsletter para as segundas-feiras. Assim, você já começa a semana com um pouquinho de inspiração.
Spoiler: começo meus cursos de fotografia de pessoas com uma pergunta para todos os presentes: o que é um retrato, para você? As respostas permeiam um universo que eu naturalmente já conheço e espero — uma imagem com uma pessoa / o retrato está no olhar/ um registro da alma / um registro da essência de alguém em um instante.
Tudo isso pode ser um retrato. Mas existe algo que essas definições falham em explicar: o retrato encenado, tão presente na realidade do fotógrafo retratista contemporâneo. Muitas vezes os modelos ali presentes estão na pele de personagens que não carregam suas essências mais íntimas. Apenas como parte de uma narrativa criada por terceiros — o que em tempo algum diminui o trabalho de qualquer um dos envolvidos.
Vale dizer que nesta pergunta há uma pegadinha clássica de professor: não existe uma resposta certa para essa definição, bem como para a pergunta ‘O que é arte?’. No dicionário, chegamos em um lugar bem cartesiano:
Re.tra.to
Fotografia; imagem que reproduz algo ou alguém.
Imagem feita a partir de uma câmera: acabou de tirar um retrato da paisagem.
[Por Extensão] Obra de teor artístico que traz essa imagem: exposição de retratos.
[Por Extensão] Sósia; pessoa que é muito semelhante a outra.
Modelo; algo ou alguém que possui todas as qualidades de: sempre foi um retrato da bondade.
[Por Extensão] Expressão descritiva das características de alguém, de algo, de uma época ou coisa: fazia um retrato do acontecimento.
Retrato falado. Imagem feita segundo informações de testemunhas.\
Eu, particularmente, tenho a minha própria ideia: o retrato é um encontro. Mas não só: na busca de um pensamento fora da caixa, penso que muitas vezes o retrato está no detalhe e também nas ausências, no que foi deixado de fora da imagem. Isso fica bem claro na obra do artista Greg Sand, intitulada Vestígio:
“Fiz este trabalho digitalizando uma fotografia de cartão de visitas encontrada, removendo digitalmente o assunto, imprimindo a imagem alterada e, finalmente, montando a nova fotografia em cima do cartão de visitas original. Do original, apenas os sapatos permanecem na frente do pano de fundo do fotógrafo, marcando o local onde o sujeito esteve. Sapatos vazios têm sido usados para sugerir perda em várias culturas: em uma lápide, eles indicam a perda de um filho; fora de uma casa grega, comunicavam a morte de um filho em batalha. Essas fotografias alteradas são agora pequenos memoriais de vidas passadas.”
Greg Sand
Um dos maiores mistérios e desafios de se fotografar alguém, está na direção: essa é a pergunta que mais me trouxeram até hoje: como dirigir pessoas?
💡A verdade é que não há fórmula exata para essa função, e existe uma razão pra isso: o processo fotográfico do retrato é uma troca, nunca unilateral. Jamais devemos depositar unicamente no outro a responsabilidade do resultado final. Se o trabalho não está rendendo, vale se perguntar o que fazer para melhorar, esse é o papel do fotógrafo (a luz está ruim, a movimentação da pessoa que eu estou fotografando ainda carrega dureza?)
As possibilidades técnicas são várias, mas é importante também estar aberto para o que o modelo pode lhe oferecer, se a vontade dele de sugerir é perceptível.
Penso que um bom fotógrafo deve saber desconstruir a dureza da movimentação e conseguir resultados com fotogenia de qualquer pessoa, seja ela modelo profissional ou não, tenha ela experiencia prévia, ou não. Alguns pontos podem te ajudar:
Busque conhecer os detalhes do local da foto e use elementos do cenário como referência na movimentação do modelo (ex.: olhe na direção da pilastra atrás de mim)
Em poses complexas de explicar, decida por ser um espelho: fazer exatamente o que você deseja que o outro faça como demonstração
Pense nos pormenores da movimentação do corpo, como posicionamento leve das mãos e olhar
Seja claro e objetivo, use o gestual, fale alto e de forma articulada
Antecipe suas solicitações: enquanto fotografa uma pose, já comece a desenvolver a cena seguinte na cabeça
Trabalhar fotografando o movimento pode ser bem mais interessante que a pose estática, proporcionando naturalidade. Pense quais movimentos podem fazer parte do caminho para a pose que você busca na imagem
Saiba equilibrar a sua forma de dirigir: você deve demonstrar segurança e know how no que faz de forma a conquistar a confiança do outro — mas a linha entre segurança e arrogância pode ser tênue. O respeito é fundamental.
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✨ Restam apenas 4 vagas para o meu Workshop semi-presencial de Nu editorial (edição Brasília). Poderemos fotografar ombro-a-ombro, com 2 modelos em uma linda locação.
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Raquel Pellicano
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A vida...(e o retrato) è arte do encontro.
Fale baixinho com o seu "encontro", se concentre no momento, não pense na próxima foto, olhos nos olhos, modelo è sujeito, know how ou know who?