💡Muito se fala, hoje, sobre o fim da fotografia, o fim do jornalismo, o fim da arte. Profissionais e amadores em todo o mundo estão boquiabertos ao arrancarem seus cabelos com os resultados alcançados pelas crescentes novidades em criação de texto e imagem trazidas pela temida inteligência artificial. Vários correram para decretar, sem hesitar: é o fim, acabou.
Alguns fotógrafos que persistentemente seguem nesta profissão tão super-saturada quanto qualquer outra do fazer criativo, se questionam se devem permanecer na trajetória com futuro nebuloso: há espaço para a fotografia no planeta da inteligência das máquinas?
Apesar do título trágico, já lhe adianto que o intuito deste texto não é trazer uma mensagem fatalista, nem me lamuriar acerca das problemáticas éticas e estéticas proporcionados com o avanço dessas ferramentas. Mas provocar uma reflexão breve sobre este assunto que tanto está em voga.
Voltando um bocadinho na história, quero lhes trazer um refresco de memória: com o nascimento da fotografia, em 1826, os pintores ficaram abismados: sua função estaria em declínio, era impossível competir tecnicamente com um aparato capaz de registrar o que se vê.
Com o surgimento do cinema, em 1895, o teatro teve seu fatídico fim decretado. E, como não poderia faltar nessa lista, a criação da famosa televisão, em 1926, veio para colocar uma bala de prata no coração do rádio e do cinema.
Essa história não fica por aqui: mais contemporâneos, porém nem por isso menos tragicômicos, os CDs, decretaram o fim das vitrolas e dos vinis, os podcasts marcaram (pela segunda vez), o fim das rádios, os e-books foram fatais para os livros de papel, as câmeras digitais destruíram a fotografia analógica e as câmeras de celulares ‘acabaram’ com a profissão ‘fotógrafo’.
Não é preciso muito para compreender onde quero chegar com tantos ‘finais’ equivocados. Sabemos que os pintores desenvolveram muito mais autoralidade e personalidade em suas obras ao se verem livres da necessidade de registro técnico da realidade. Sabemos, também, que as salas de teatro seguem cheias, encantando plateias em uma vivência imersiva e insubstituível. Gastamos rios de dinheiro em vitrolas especiais e coleções de vinis, não apenas pelo saudosismo, mas pela qualidade especialíssima do som. Adoramos fotografar com analógica, não só pela mágica que acontece no laboratório, mas também pela textura do grão, pela experimentação, pela surpresa.
✨Aliás, acho que vale um destaque: nunca tantas pessoas me procuraram em busca de um belo retrato, já que só tem de registro centenas de selfies vazias, feitas com suas câmeras de bolso.
O novo é, naturalmente, assustador. Mas repensar o nosso papel profissional e a maneira como nos relacionamos com a criação, pode também ser um processo natural de maturidade na busca de uma poética e autoralidade que nem o chat GPT, nem o Midjourney, conseguem desenvolver sozinhos. Aliás, a ética com a qual administramos essas ferramentas, depende da cabeça, humana, por trás dos computadores. Por isso a discussão se faz extremamente pertinente.
Acredito que essas são ferramentas que podem servir de pontes para novas maneiras de criação, de layout, de base, de inspiração. A fotografia analógica não morreu com o nascimento das câmeras digitais, a profissão fotógrafo não morreu com o nascimento dos celulares com câmeras, e a fotografia não morrerá com o uso da inteligência artificial. Que sejamos éticos e atentos, sempre em busca do que nos torna diferentes — e também humanos.
E já que o Youtube vai matar a televisão: sejam bem-vindos à nossa nova TV. :) Eu li este texto no canal do f/508, que está de volta à ativa:
💡Novidades e avisos f/508
Amanhã começa uma nova turma do clássico curso do Escrita criativa: contos. O professor convidado é o querido Tiago Velasco.
Aviso aos navegantes: HOJE é o último dia para inscrições no ciclo 8 do projeto Passaporte Cultural. Depois, não tem choro nem vela, nem fita amarela.
Já é possível encontrar, nas aulas gratuitas do f508, o papo que tivemos na sexta-feira sobre produção literária. Vale muito assistir até o fim, os professores trazem alguns insights incríveis.
O desafio da semana na comunidade do Discord f508 tem o tema ancestralidade. Você já pensou as possibilidades de produção a partir deste assunto? Lembrete: a participação é gratuita, aberta a todos!
Gostou do que encontrou aqui? Encaminhe para um amigo, recomende, se possível, apoie os nossos projetos, participe do Passaporte Cultural. Tem alguma questão? É só responder a este email, que falará diretamente comigo. Beijinhos e até a próxima,
Raquel PellicanoAcompanhe o f/508:
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