Para ler escutando “do you dream of me too?”
Desde sempre o ser humano carrega em si a necessidade de registrar sua breve passagem nesse mundo de alguma maneira. Dessa vontade, surgiram os desenhos nas cavernas, posteriormente a escultura, a pintura, a escrita e, recentemente, no começo do séc. XIX, a fotografia.
A fotografia escancara nossa finitude, o receio de amanhã já não fazermos parte deste mundo. Ela nasce da busca, desesperada e constante, de fixarmos em forma de imagem nossas memórias e vivências, nosso entendimento da vida, nossa compreensão do mundo que nos cerca.
Nessa tentativa, o retrato se faz assunto recorrente na pintura e nas fotografias de pessoas - e, hoje, a selfie domina nossas redes com milhares de registros auto-captados de nosso rosto em close com o celular. Mas será mesmo que essas imagens contarão nossas histórias? Será mesmo que essas imagens trarão, para futuras gerações, uma noção interessante do que vivenciamos e do que um dia fomos ou criamos? Acredito que a selfie é rasa, rasa em conteúdo e narrativas. Mas talvez possamos descobrir que foi esse, de fato, o espírito da nossa época, o Zeitgeist (espero que não!).
Diante do fim inevitável, entendo com muita clareza a frase que foi sabiamente trazida em uma aula pela fotógrafa e artista Jacqueline Hoofendy no f508: toda fotografia é um autorretrato.
Vejo o quanto nossas fotos carregam informações de quem somos - nossos anseios, medos, sonhos, desejos. Nos vimos, há pouco, encarando a morte de frente com uma longa pandemia - e cara a cara com ela, compreendi que nada melhor do que estudar e produzir fotografias, não do meu rosto, mas da minha visão de mundo. Para assim, quem sabe, deixar minhas pegadas presentes no futuro.
“Ninguém tem o direito de apropriar-se de retratos que não lhe pertençam, salvo se lhe foram oferecidos, levar um retrato duma pessoa no bolso é como levar-lhe um pouco da alma. (…)”
José Saramago em Todos os nomes (São Paulo: Companhia das Letras, 1997).
O artista americano Greg Sand utiliza-se de fotografias vernaculares apropriadas e encontradas para sua criação, com o intuito de desenvolver imagens que ilustrem figurativamente a temporalidade da existência humana.
Explora conceitos como perda, morte, ausência e memória, através de intervenções que criam um diálogo inexorável entre as personagens retratadas e o seu destino incontornável. Sua produção é realizada com manipulações digitais e analógicas, colagem, mídia mista. Com essa construção, o artista explora diversos tempos, removendo elementos fotografados ao mesmo tempo que mantém vestígios de presença guardados na sombra de alguém que já não mais existe, nos detalhes da casa, nas suas roupas e sapatos vazios.
Suas imagens proporcionam incômodos: reflexões sobre como as fotografias, apesar de sua capacidade de eternizar um instante, não nos impedem de desaparecer. Várias das suas séries, como Echoes, Chronicle, Absence, Remnants, Memento, Vestige, Once Removed, reforçam e enfatizam essas contradições e o desespero humano em se fixar no tempo.
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Raquel Pellicano
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