Sabia que o filme não morreu? Não mesmo! Para além do saudosismo, a fotografia analógica virou uma cultura intensa que move comunidades. Mas você, que está aí do outro lado da tela, já se perguntou porque tem gente que continua nesse caminho?
Porque que ainda faz (e muito) sentido fotografar com câmeras de filme? Consigo citar 1001 razões, mas hoje vou discorrer sobre 4 - e tenho certeza de que você ficará morrendo de vontade de correr pra comprar sua próxima companheira de aventuras no antiquário (alfarrabista, para os amigos portugueses) mais próximo. Vamos a isso:
Fotografar com analógica te proporciona um cuidado intensivo com a composição visual: você não tem muitas chances de errar.
É bem verdade que a fotografia digital nos deixou mais preguiçosos. Como se não bastassem as lentes com “superzoom”, que são uma verdadeira pegadinha (já que costumam trazer com essa vantagem uma péssima qualidade ótica), as pessoas desenvolveram com a cultura digital o hábito de transformar em responsabilidade do total acaso a busca pela imagem perfeita: clicam centenas de vezes com a ideia de que “alguma deve prestar”. Isso tudo torna o processo de seleção maçante, difícil, e faz com que guardemos um mar de imagens medíocres. Ao fotografar com analógica você paga caro por cada clique - vai pensar com muito mais carinho antes de apertar o botão, refletir sobre o que merece a sua atenção enquanto objeto fotogênico.
O treino em analógica altera seus parâmetros: te coloca para sentir que 36 poses são uma quantidade gigantesca de possibilidades
Ao fotografar com filme o seu olhar tende a se tornar mais assertivo: vira um tiro possivelmente certeiro. Aqui, não existe disparo contínuo: e dessa forma você evita arruinar a imagem ideal registrando um milímetro de segundo antes, ou um milímetro de segundo depois do momento decisivo.
“Fotografar é prender a respiração, quando todas as faculdades convergem para capturar a realidade fugaz.”
Henri Cartier-Bresson
O analógico possui resultado estético diferente, que pode agregar uma dinâmica interessante para um trabalho fotográfico híbrido
Nas atuais circunstâncias, onde temos pouco controle em relação ao resultado final e qualidade da revelação, acho pouco recomendável confiar unicamente na película para a realização de um trabalho fotográfico. Mas acredito bastante nas possibilidades de soma e diálogo entre o analógico e o digital com experimentações de maneira a agregar imagens interessantes ao seu resultado final. As óbvias diferenças nas tecnologias de captação da imagem trazem visuais bem distintos - consegui fotografias verdadeiramente surpreendentes quando me permiti essa possibilidade. Nesse ensaio, com a Isabela Gomes, fiz questão de trazer um pedacinho em analógica para dialogar com o projeto Lomo-rolê, desenvolvido por ela.
O processo, mais lento, resgata aquela ansiedade (gostosa) de esperar e imaginar.
Desde que nos digitalizamos de maneira definitiva passamos a conseguir tudo com um imediatismo assustador: escutamos qualquer música em poucos instantes, enviamos mensagens e emails para o outro lado do mundo em alguns segundos, capturamos imagens com uma facilidade e rapidez ímpares. O mundo está ao nosso alcance e o céu é o limite. Mas será que não perdemos alguma coisa no caminho?
Confesso que sinto alguma saudade de quando era necessário juntar minhas economias com esforço para comprar aquele CD com um hit que eu PRECISAVA escutar até enjoar. Ir até a loja de discos era um processo delicioso, que exigia muita calma e, principalmente: era preciso parar, sentir, fechar os olhos, analisar, perceber aquela música no corpo para entender se a compra exorbitantemente cara realmente valia o investimento. Quando foi a última vez que você escutou uma música sem fazer mais nada ao mesmo tempo, efetivamente se entregando à melodia?
💡Vale sempre lembrar: enquanto a pintura é uma arte aditiva e o artista soma detalhes e elementos pensados para aquela imagem em específico, a fotografia tem a característica oposta, é uma arte subtrativa: cabe ao fotógrafo limar do enquadramento tudo aquilo que não faz sentido, ou não faz parte da mensagem ou da narrativa. O exercício de olhar o enquadramento de fora para dentro, analisando suas arestas, é muito rico no desenvolvimento de uma composição objetiva e estruturada.
Agora me conta, você continua fotografando com câmeras analógicas?
📣 novidades importantes no f/508:
✨ A data de início do curso de longa duração (10 meses) Fotografia Expandida foi postergada para 09 de novembro, e restam algumas vagas. Se você gosta da fotografia como meio de expressão mas não dispõe de tempo para a nossa pós graduação, de certo ficará pleno com as possibilidades incríveis trazidas com essa formação tão especial.
👀 Em novembro eu volto a ministrar um curso clássico: Gestão de Arquivos e Tratamento de Imagens com Adobe Lightroom. Fico super feliz em ensinar uma ferramenta que é verdadeiramente útil no dia a dia de um fotógrafo amador ou profissional.
💡Te convido a pensar o absurdo, o inútil, o humor e o ambíguo, no novíssimo curso Design como Provocação. De certo será um mergulho interessantíssimo.
⏳ Avisei mil vezes que as inscrições para esse ciclo do Passaporte Cultural estavam se encerrando. Se você é um dos vários que ficaram na vontade, aproveita e se cadastra na lista de espera para saber em primeira mão quando o próximo ciclo abrir.
✨Rapidinhas para ver, ler e ouvir
✨A pasta no pinterest do Tiago, com textos visuais, tá sensacional. Vale espiar e se inspirar. Aliás, fica a dica pra você que gosta de criatividade: a newsletter dele é simplesmente imperdível.
✨A playlist perfeita para ler ou estudar.
✨Estou totalmente apaixonada pela editora Planeta Tangerina, aqui em Portugal.
✨Vem ver como é passar um dia no Japão, pelo olhar da artista visual Anais Karenin. (Hysteria)
Hoje faço 35 primaveras! Se quiser me dar um presente, compartilha essa newsletter com alguém que você adora! Pra gente, esse é um presentão. Tem alguma pergunta? É só responder a este email, que falará diretamente comigo. Beijinhos e até a próxima,
Raquel Pellicano
Acompanhe o f/508:
visite o nosso site
siga no instagram
siga no twitter
assine no youtube
junte-se à conversa no discord